sábado, 16 de abril de 2011

ENTREVISTA COM A POETA HELENA FIGUEIREDO




1) – Como ocorreu seu contado inicial com a poesia?

Desde muito pequena, fui habituada à presença dos livros. Meu pai, um simples agricultor, frequentava a Biblioteca do concelho e enchia a casa de histórias, que depois me lia ao adormecer. Mais tarde, eu própria me deslocava alguns kilómetros a pé, só para ter o prazer de ficar no meio daquele cheiro intenso acabado de chegar de Lisboa, nossa capital (a Biblioteca pertencia à Fundação Calouste Gulbenkian ). Daí, até apanhar o vício da leitura, foi um pequeno passo. Passava horas a ler desde as deliciosas aventuras, aos imortais romances e a magia das palavras era um mundo novo, que se ia construindo no meu inconsciente. A poesia propriamente dita, surgiu mais tarde, nos bancos da escola, onde aprendíamos e até decorávamos, alguns poemas dos grandes nomes da literatura portuguesa. A poesia declamada sempre me encantou. João Villaret, Mário Viegas, e o poema ganhava vida, na suas vozes radiofónicas. Sempre escrevi poemas, inicialmente em cadernos de capas pretas, tipo diário, depois segui com a vida, construí família, carreira, mas a poesia sempre foi um cunho imprimido no discurso de cada dia. Escrevi um texto precisamente sobre isso, que pode ser lido em http://noreinodacriatividade.blogspot.com/2008/10/renascer.html. Em 2008, criei o Blogue "Teatro de Sombras", onde continuo a publicar alguns poemas da minha autoria.



2) – Quais são suas influências literárias?


O homem é um ser mutante, influenciável. Seja um gesto, um odor, uma paisagem, um sentimento, um simples olhar, e nunca mais seremos os mesmos. Nesta perspectiva, deixo-me influenciar pela vida, pelas emoções, pela natureza, também por todos os livros que li, mas, talvez seja imodéstia afirmá-lo, não tenho influências literárias propriamente ditas, no sentido mais concreto da expressão. Recuso seguir normas, padrões, tendências, sou um pouco naïf na maneira de escrever.


3) – Como é seu procedimento ao escrever um poema?


Como disse atrás, nós somos, nós e a nossa circunstância, vivemos contextualizados, mas se estivermos atentos, nunca a vida será uma rotina, centelhas de novo despertarão a cada momento a nossos olhos. E o poema germinará, devagarinho, destabilizando emoções, inquietando, crescendo na luz que nos habita e num dia qualquer, sem pré-aviso, ei-lo que chega, pronto a saltar para o papel. Nesse momento, sento-me, pego no lápis e espero. Há poemas que nascem prematuros, necessitando de cuidados. Esses, ficam retidos no rascunho, cinzelados aqui e ali, noites a fio, até que já não precisem de mim. Outros, porém, aguardam apenas que alguém os leia, nada mais.



4) – O que é poesia para Helena Figueiredo?


Poesia, é estar viva, é sentir esta inquietação no peito, é ser veículo do belo, do intemporal, é ter prazer no silêncio e deixar que as palavras jorrem de dentro de mim.


5) – Como você vê a relação entre a poesia contemporânea brasileira e a poesia contemporânea portuguesa?

Ambas, embora peculiares, pertencem a um mesmo povo, irmão de sangue e de história, são património valioso, que será imortal, enquanto o homem quiser.

6) – No Brasil, independentemente do fato de que se lê pouco, a poesia tem pouca divulgação e espaço entre leitores. Comente sobre a questão da leitura de poesia em seu Portugal.

O mesmo se passa, aqui em Portugal . A proliferação dos meios audiovisuais como o computador e a Internet, vieram sem dúvida, aumentar a divulgação de novos poetas, pessoas completamente desconhecidas, que de outra forma nunca chegariam ao público. No entanto, um maior conhecimento das obras poéticas, não influenciou, no meu ponto de vista, o interesse pela sua leitura. Ler poesia, não é como ler um romance policial, desses que acabam com a morte do ladrão e um beijo de amor. Ler poesia, requer sensibilidade, um mergulho na mensagem, para que dela nos apropriemos e o poema se torne universal. Aqui em Portugal, a divulgação da poesia na rádio e televisão é praticamente nula. Haverá meios mais acessíveis do que esses, para pôr as pessoas em contacto com a arte poética? Estamos a falar, e penso que posso englobar o Brasil nesta análise, em povos com poucos recursos, e onde o livro impresso, essa preciosidade insubstituível, aparece, quase sempre, associado a objecto de luxo.



7) – No Brasil, a poesia portuguesa parece restrita a nomes como Fernando Pessoa e Camões. Muitos ignoram nomes como António Ramos Rosa, David Mourão Ferreira, Sophia de Mello Andresen Breyner, Florbela Espanca, e autores clássicos como Antero de Quental e Cesário Verde. Como você vê a questão da predominância de poetas que acabam por restringir o conhecimento de outros nomes da poesia portuguesa?


Essa questão, prende-se muitas vezes, não com a qualidade da poesia, mas com uma série de outros factores, alheios ao poeta e à sua obra. Todos os organismos que se dedicam à divulgação de novos autores, ou mesmo áqueles que já falecidos, deixaram um espólio fantástico, digno de ser conhecido, são condicionados por fortes interesses económicos, políticos e até religiosos, que travam em grande parte a divulgação das obras. Atente-se por exemplo na inclusão, ou não, de alguns autores nos compêndios escolares. Qual o critério?

2 comentários:

  1. Hilton,
    muito obrigada pela publicação desta entrevista.
    Vou deixar o endereço do meu blogue, esperando a visita de todos vocês.
    http://noreinodacriatividade.blogspot.com/
    Saudações de Portugal
    Helena Figueiredo

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  2. Olá, Hilton
    Convido você e seus leitores para as comemorações dos dois anos do blog Jazz + Bossa + Baratos Outros. O endereço é:
    www.ericocordeiro.blogspot.com
    Abraços!

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